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“O maior sofrimento é quando não há quem cuide da gente”

No coração da área mais pobre do Estado de Minas Gerais, a cidade de Montes Claros oferece esperança a milhares de pessoas que sofrem de câncer. Elas deixam as cidades das redondezas em busca de atendimento médico e tratamentos específicos como quimioterapia e radioterapia. Estima-se que a cada ano surjam pelo menos 3.000 casos e haja 1.000 óbitos só na região. Faltam recursos básicos (193.000 famílias vivem em situação de extrema pobreza nos arredores) e infraestrutura.

Quando chegava para trabalhar no hospital público da cidade, a médica Priscila Bernardina Miranda Soares deparava com pessoas que não tinham onde ficar nem o que comer. Elas enfrentavam uma jornada de 24 horas para se tratar. “Eu pensava: ‘Como uma pessoa vai vencer o câncer, se ela não tem comida, se não tem morfina, se não tem remédio para enjoo, se emagrece a cada ciclo de quimioterapia?’! Só resgatamos a dignidade e a saúde de uma pessoa quando olhamos para ela por inteiro”, diz Priscila. 

A inquietação levou-a a fundar a Associação Presente, um espaço que acolhe gratuitamente os pacientes carentes das cidades próximas. No começo, em 2004, o local era pequeno, com dois cômodos e seis leitos. Hoje, tem 800 metros quadrados e abriga 32 pessoas. Além de uma cama para dormir, banho quente e refeições balanceadas, os pacientes têm acesso a orientação com assistente social, atendimento nutricional e psicóloga. Os doentes também recebem apoio espiritual, participam de atividades de entretenimento, como roda de viola e palestras, e aprendem artesanato. 

Desde o início, a associação já ajudou mais de 7.000 pessoas. Quanto à prevenção, Priscila também é ativa. Todos os anos, organiza o maior mutirão de rastreamento da doença na região. O atendimento ocorre na praça central da cidade e, desde a primeira edição, em 2011, já detectou precocemente câncer em 86 pessoas. A médica é descrita como uma pessoa afetuosa, exigente e incansável. Todo o trabalho é feito com doações de cidadãos comuns e empresas. Neste ano, ela se impôs um novo desafio: criar o primeiro centro de cuidados paliativos do norte de Minas. 

A prática consiste em aplacar o sofrimento causado pelos sintomas e pelas sequelas de uma doença sem cura. Calcula-se que 80% das pessoas com câncer avançado vão enfrentar a dor em alguma fase da vida. É isso que ela quer mitigar. “O maior sofrimento do ser humano, o mais intolerável, insuportável, é quando não há alguém que cuide dele”, diz Priscila.

 

 

Fonte: https://veja.abril.com.br/ideias/perfil-priscila-miranda/